17/02/2010

20:04, MA.

Dizer que ''o tempo cura tudo'' é uma verdade irritante. É talvez a expressão mais badalada em enterros, consultas médicas ou reuniões de amigas daquelas para consolar a que acabou com o namorado.
É irritante. É badalada.
E é verdade.

E é idiota filosofar sobre isto enquanto se desce uma preta no meio dos pinheirinhos e bossas numa estância de Vermont. Tão idiota ou tão pouco que, a mim, me custou uma pequena fratura no joelho, que ainda hoje sinto. Shit.

Parece-me pertinente filosofar agora que não me apoio num pavimento de 70º relativamente ao chão.
Embora tenha pouco tempo (plus pachorra) tento sempre arrumar ideias aqui, em Boston. Não cura propriamente, mas faz parte chegar e dizer ''agora que estive fora''... e inventar uma série de coisas do género ''arrumei as ideias'', ou ''estava a precisar de me encontrar''.

Terei alguma coisa a curar?

Até que pedia ajuda a este tempo-distância, e depois escrevia um livro.

Quantos anos-luz de Boston a Lisboa?

Hm. Constatei, estatisticamente, que a minha irmã mais nova faz 60% menos birras agora do que nos primeiros 2 meses de morada em Massachusetts. E que a A tem menos tristeza nos seus olhos no dia do pai.
Que a outra se habituou a ser gorda. E que eu me habituei a viver sem ti meio ano, e fui feliz, como fui 15x365 dias antes de te conhecer.

''O tempo cura tudo'' está no meu top5 de frases mais chatas e irritantes que se pode dizer em alturas de pressão arterial e nervosa acima da média.

Vou tentar contradizê-la, porque além de chata, irritante e badalada, irrita-me que seja verdade.
O tempo não cura tudo. O tempo não cura nada, pronto. A minha irmã pode já não fazer fitas daqui a 4 meses, mas vai continuar a gostar mais de Cascais. A A continua a ter saudades do pai. A outra ainda sonha com um 34 e eu ainda sinto a tua falta, e talvez ainda te ame.

Mas os calendários e a distância conformaram-me, e Deus traçou-me um novo caminho em que posso continuar a fazer escolhas para ser feliz.

Somos moldados por ponteiros que, felizmente ou não, nos fazem perceber que os minutos movem horas e que estas movem dias, anos, décadas.
A alternativa é contemplá-los, e continuar a olhar a ferida de frente, ou em linguagem comum, a ''bater no ceguinho''. A grande novidade é: a nossa vida (ou pelo menos a minha, que abomino por completo a teoria da reencarnação) não anda em círculos.

E, quer queiramos quer não, damos a volta, tal como o ponteiro. Uns mais cedo, como o dos segundos. Outros mais tarde.
O relógio não pára.

E, sabes que mais? O que espero mesmo é que ande a mil, e me cure rápido esta ferida no joelho.

Tic Toc.

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